Terra arrasada


I


Cerco

Dia sem vida.
Noite mal dormida.
Na rua tiro e corrida.
Na mesa pouca comida.

Na casa criança sob a cama.
Na rua bandido de muita fama.
Terra de pó e fumaça; é difícil ama-la.
(caçador)
Não importa o que faça, hoje é o dia da caça.

II

Patrulha provisória

Sobe policia.
Desce milícia.
Sobe bandido.
Desce prendido.
Sobe político.
Desce ilícito.
Sobe tudo junto.
Desce defunto.

No fim nenhum sobrevive.
Após anos, nada vive.
O povo se esquece de todos e a vida revive.

III

A nascente

Estou na foz deste rio veloz.
Aonde a água corre feroz.
Aqui ela flui para um delta.
Desce esbelta.

Águas límpidas e alvas; hoje tão raras.
Saiba que nem sempre foi assim.
É assim porque do rio, é o fim.

Nada nasce grande.
Assim como o rio,
as coisas tornam-se grande.
Pois antes de grande o rio.
Ele de água, era apenas um fio.

IV

Amor um conceito

Tentei explicar o amor.
Soube que também era dor.
Não apenas alegria.

Tentei explicar este sentimento.
Talvez por não ter sentimento.
Repeti a rima nesse momento.
Porque caiu meu ressentimento.

Amor é um rio que não se represa.
É uma palavra que não se explica.
É o sentimento que fica.

O amor não existe para ser definido.
Ele existe para ser sentido.

V

Caminho romano

Nasce o filho...
Sai para ir a escola.
E sua mãe diz:
“- sempre reto, da casa para a escola.”
Então virá homem casado.
E sua esposa diz:
“-sempre reto, da casa para o trabalho.”
O homem passa a vida a andar reto.
Numa estrada romana.
Numa vida mudana.
Acha que reto é o correto.

Mas nem sempre é assim.
Por isso cometem-se injustiças.
E este homem termina sem ajudar ninguém.
Vive sua vida vazia até o fim.

VI

Certo e errado

É justo receber pelo mês de trabalho?
Sim, é justo.
É justo alguém que não trabalha receber?
Não, isso não é justo.
Agora é certo privar alguém de seus direitos?
Caso não tenha dinheiro?
Não, não é certo.
Entretanto é justo.
No mundo o justo é injusto,
é o certo e correto.

Por isso o homem deve além de ser justo
ser certo.
Por que na guerra é difícil ser
patriota com o estômago vazio.
Já diz este provérbio.

VII

Delegado Marcos

Passou em um concurso o Dr. Marcos.
Formado em direito.
Delegado na fronteira foi feito.

Foi delegado na fronteira.
Numa terra sem eira nem beira.
Foi delegado numa terra ninguém.
Foi delegado por ser alguém; onde não há ninguém.

Um homem da lei.
Na terra sem lei.
Um delegado honesto para muitos desonestos.

Eis, que um dia correu o boato.
Que o delegado morreu.
De novo o estado, um novo delegado escolheu.
E hoje a fronteira esta largada.
Nem carro, muito menos brigada.

Marcos faleceu e no seu lugar.
Colocaram um inútil “Calabar”.
Que além de incompetente.
Fazia-se de demente.

VIII

Fato jornalístico 

Além do norte, existe um sul.
Além do forte, existe um fraco.
Além do corte, existe um caco.
Além da morte, existe a esperança.
Além da sorte, existe a confiança.
E além de tudo, soma-se:
esperança, confiança, sul, fraco, caco.
Por que além de tudo, há o fato.

IX

Tempo de negação

Tempo de negação e solidão.
Negar toda a ação.
Aprimorar-se na inércia.
Fazer apenas rejeição.

Cortar relações.
Praticar omissões.
Negar a amizade, fraternidade e igualdade.
Rejeitar acusações.

Tempo de não haver culpa.
Somente desculpa.

X

Tentativa de voo

Ficcional tentativa.
Talvez definitiva.
Pode ser a última.

Quando sobe a condição atmosférica pode impedir.
Depois das nuvens é mortal se cair.

Nave de aço voa no céu.
Agora a terra vira céu.
Entre cambalhotas voa-se a nave.
Lá fora muitas aves.

É uma tentativa de voo,
a qual não sabe-se o tempo no ar.
Nem se vivo vai aterrissar.

São tentativas arriscadas, onde a coragem e mais aplicada.


Nenhum comentário:

Todos querem viver um romance

Primeiro ao escrever se deve ter algo a relatar. Alguma historia, relato ou anedota. Se nada há para contar, não se deve escrever; pois po...