A Menina de Meias Listradas



                           
    "Está meio frio agora" pensou a menina de meias listradas que fechou o livro, colocou-o na mochila e resolveu voltar para casa. " E que horas devem ser?... vou ver no celular... ah, que se dane!" , e seguiu seu trajeto para voltar ao lar. Um trajeto alternativo, que leva mais tempo para chegar em casa e com paisagem mais agradável, a menina de meias listradas faz esse trajeto quase todos os dias desde o início das férias... "Não tenho pressa de chegar em casa" é o que ela sempre pensa... "Não quero voltar mais para aquela casa" é o que ela pensa mais ainda, mas não quer pensar nisso. E sua mente a ajuda esconder esse pensamento de si, e esse pensamento vai para as gavetas do lado obscuro do cérebro, todos os dias ele foge no mesmo horário, e todos os dias no mesmo horário a mente da menina tranca ele lá de volta. Virou rotina, é rotina esconder pensamentos, é rotina retardar o tempo e também é rotina ficar com medo.
      E a menina caminha devagar, sem pressa, ora vê o cenário,  ora vê seus pés e suas meias listradas. Listras brancas e listras pretas. Vê casa antigas, vê árvores. Fica em dúvida de quem é mais antigo, se são as árvores ou as casas. Vê pessoas nos jardins. Fica em dúvida de quem é mais antigo, se são as casas, as árvores ou as pessoas. 
     E ela olha para o chão, olha para os pés, olha para as meias listradas.
     E ela olha para os paralelepípedos no chão... olha para as meias listradas.
     Eis que de repente suas meias juntam-se com o cenário e tudo parece virar uma coisa só. E por alguns momentos listras brancas e listras pretas é o tudo o que a menina vê... e o pior, é tudo o que ela sente. "Não!", a menina sente pavor, seu corpo gela e um arrepio que surgiu na espinha corre rápido até o pescoço. A menina grita, lágrimas escorrem de seus olhos, lágrimas brancas, lágrimas pretas. E tudo vira branco e preto, pois tudo sempre é foi branco preto. Olha para um senhor idoso num jardim, roupas claras e limpas, olhar triste e vazio. Olha as árvores, todas secas com poucas folhas. Olha uma bela casa vitoriana, pintada de branco, pintura gasta. Eis, que o chão começou a girar, e os pensamentos da menina a embaralhar, e as linhas brancas se misturaram com as linhas pretas. E quando o chão parou a menina caiu de joelhos, E quando a menina se apoiou em uma das árvores para levantar-se viu que a árvore era cinza, e quando olhou para a mesma casa que virá antes de cair, a casa era cinza. E quando olhou para o mesmo senhor idoso, ele estava caído no chão, não se mexia, ele era cinza. 
     A menina chorou ainda mais que antes, suas lágrimas também eram cinzas! E o céu era cinza, e o céu chorou também, as lágrimas do céu também eram cinzas! 
    O chão girou de novo, os pensamentos da menina se embaralharam de novo, e tudo girando, girando, e girando! 
    Parou.
    E a menina olhou para os pés, olhou para as meias listradas, olhou para frente, e viu a sua casa. Havia chegado em casa, a casa em que sempre morara. O pensamento fujão se soltou na hora em que os pensamentos da menina se embaralharam,  ele gritou "não entre!", mas já era tarde, a mente da menina trancou ele de volta na gaveta. Os pensamentos se organizaram e as cores para seus lugares voltaram, e o que era branco era branco, e o que era preto era preto. E a casa da menina era como  sempre fora, vitoriana, com suas cercas brancas, com seu jardim cheio de petúnias e com as árvores grandes que seu avô plantara muito antes dela nascer.
    E o branco no branco, e o preto no preto. E os pensamentos da menina... branco no branco, preto no preto. 
    E o que é obscuro continua um segredo.

Autora
Amanda Tavares

Um comentário:

Anônimo disse...

:)
brigada!

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