Coletânea dos dez



I

O Obituário


Peguei um jornal para ler.

Pensei que tanta desgraça na vida

me desanimaria.

És, que surpreso o leio do princípio

ao fim e não me deprimo.

Porque as palavras duras que

leio e escuto, já não me fazem

surpreso nesse mundo.


II


O Holandês Voador

 

Entro naquele sufoco,

sem nenhum espaço e com cheiro de mofo.

Muitas pessoas, pouco espaço

e Davy Jones com horário encima do laço.





Avança rapidamente e as pessoas são arremessadas;

ora para um lado, ora para outro.

Paramos, uma voz grita “entra aí outro.”

O contramestre diz “sim, tem pode entrar”.





Assim vai cada parada mais gente entra.

E segue o barco derrubando trabalhadores.

Porque o transporte eles bravamente enfrentam.

Não com menos dores.





Segue e Davy Jones diz “ainda há lugar”.

Eles gritam “aqui não tem mais ar”.

Assim é, velho, criança e jovens tudo misturado.

Quando sai um, parece ser arremessado.





Chega no fim da viagem prometo não

fazer outra nunca mais,

mas somente se eu não trabalhar mais.





III





Josué





Oi, meu nome é Josué Fernadez.

Vim do interior de Joarez.

Tentar a vida na cidade grande,

mas logo que cheguei me roubaram as malas.

Reclamei aos oficiais as malas.

Eles responderam paciência. “quase mandei as favas”





Agora somente sobrou a viola

para pedir um prato de comida e esmola.

Mas juro voltar para Joarez;

e me desfazer,

desse povo que me desfez.





IV





É Carnaval





Estou feliz, porque é carnaval.

Não tem tristeza nem pecado carnal.

É carnaval.

Não há miséria e prostituição.

Não temos mortes nem corrupção.

É carnaval.

Tudo é permitido,

nada é proibido.

Todos são liberais.

Não existe bandido em nossos quintais.

É carnaval tudo é banal.

Quando terminar veremos nosso quadro social.





V





A winchester 44





Meu pai tinha uma arma.

Um dia levei um amigo em casa.

Em cima da lareira é onde ficava a arma.

A mãe dele espera-o em casa.





Depois de estudar química e Pitágoras.

Ficamos a conversar horas.

Então decidi mostrar a arma.

Tirei da lareira e o mostrei.





Mas velha winchester estava carregada.

Então disparei... “oh, meu Deus”.

“que foi que eu fiz.”

Erramos amigos, então encostei a arma,

junto ao peito e apertei o gatilho.

Afinal erramos amigos.





VI





Fronteira





Reescrevendo a “Historia Pátria”





Lá vai um barquinho carregado de … contrabandistas.

Lá vai um barquinho carregado de … contrabando.

Lá volta um barquinho carregado de … dinheiro.

Lá vai um barquinho carregado de … policiais.

Lá vai um barquinho carregado de … oficiais.

Lá volta um barquinho carregado de … derrotados.

Assim passa o dia a fronteira vai um barquinho,

volta outro barquinho.





VII





Quando vê-las





Ora, fez-se preciso o leitor escrever.

Porque as palavras entram pelos olhos,

quando você as vir.

E assim tendem a sair por algum lugar.

Alguns fazem elas saírem pelo ar.

Outros fazem-nas no papel.

Eu as edifico como uma torre de babel.





VIII





Viagem de ida





A vida já mostrou a todos que não é como os gibis,

nela não há bis.

Somente existe uma vez o tempo não volta,

podemos esquecê-lo, mas não esquecer que ele passou.

Vocês podem chorar, porque ele não voltou.

Mas o fato não muda, não volta.

A palavra escrita e falada não volta,

a bala do revolver não volta,

a caneta não volta.

Há situações que somente resta o remorso.





IX





Miguel





Meu nome é Miguel Carlos de Oliveira,

nasci em Ribeira,

uma cidade do interior.

Aos 23 anos fui preso por um crime supostamente meu.

Mas que foi meu irmão que cometeu.





Quatro anos na cadeia.

Esqueci meu nome, a descendência e a vida.

Tentei suicídio duas vezes, não consegui.

( maldita forca)

Quando sai procurei meu irmão.

Peguei o revolver e fui acertar tudo.

Chamei-o para rua, ele veio mudo.

Mas nesse meio tempo desceu uma criança,

ela diz “pai esta tudo bem?”.

“sim, entra e fica com mamãe”.





Sabe esse dia não apertei o gatilho.

Você vai chamar-me de covarde,

mas isso no meu coração não arde.





Simplesmente larguei o revolver nos seus pés

e fui embora, para nunca mais volta.

Nunca mais vi meu irmão, mas não

arrependo-me do que fiz.

Foi Deus que enviou aquela criança...





X





Um Homem





Todos precisam desse homem,

mas ninguém dá valor para ele.

Se você não precisa agora dele

um dia necessitará desse homem.





O nome dele é professor,

apenas professor por causa do Estado.

Apenas professor?





Ele merece mais que somente isso.

Ele respondeu as questões que não sabemos,

sabe as equações que desconhecemos.

Ele merece nossa vitória, pois é ele que nós

empurra para atravessar a janela da vitória.

Ele faz mais que contar história.

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